“Não acredito que a solução para problemas complexos esteja nos extremos”, diz Benoni
“Os gestores regionais precisam elaborar uma pauta comum para impulsionar o desenvolvimento regional” |
Salinense,
engenheiro, 48 anos, Raimundo Benoni Franco, herdou o tino político do pai que
foi prefeito de Salinas por três mandatos, e agora desponta como jovem
liderança política em Belo Horizonte e Salinas. Benoni é funcionário de
carreira da Cemig, já foi secretário de Estado da SEDINOR, Chefe de Gabinete do
Ministro da Cultura (2017) e secretário Nacional de Infraestrutura Cultural.
Nas eleições municipais de 2016 disputou a prefeitura de Salinas, e também foi
candidato a deputado estadual em 1998. Ele reside em Belo Horizonte, casado,
pai de duas filhas e atualmente presidente o PPS em Minas. Em
entrevista, Benoni aborda vários temas, como a sua experiência, dissertando
ainda sobre políticas de desenvolvimento regional.
Você é um jovem
político que vem despontando na região, especialmente em Salinas, sua terra
natal. Quais são seus projetos para a cidade e região?
Benoni - Acho que não sou
tão jovem assim. Iniciei minha militância política em 1997 e já no ano seguinte
fui candidato a deputado estadual. Lembro que foi um dos momentos mais
marcantes da minha vida, muitas dificuldades e poucos recursos. Na época,
Salinas tinha dois deputados estaduais com muita representatividade no estado:
Geraldo Santana e Péricles Ferreira, duas lideranças importantíssimas para a
história da nossa cidade, ambos estavam indo para o terceiro mandato de
deputado. Meu pai havia deixado a prefeitura em 1996, mas como todos sabem,
muito correto e leal a seus princípios se ausentou da participação eleitoral,
pois o seu partido – o PSDB – já tinha uma candidatura local. Deste fato tirei
duas lições da política: A importância da fidelidade partidária e o fato de que
sozinho ninguém faz política, principalmente se desejar disputar uma eleição,
pois ninguém é candidato de si mesmo. O pior que naquele momento eu estava só! Mas
aos poucos, alguns jovens compraram a ideia de uma participação diferente, me
lembro de todos – especialmente Daniel e Maurícia. O resultado não foi bom, mas
o processo foi maravilhoso. Como não tinha recurso, foi preciso fazer tudo, até
a minha música eu fiz... A vontade de ver Salinas como um dos polos
efetivamente propulsores do desenvolvimento do Norte de Minas começou ali e
está comigo até hoje. Não há outro projeto na minha cabeça que não seja a
transformação de Salinas em um centro de desenvolvimento, aproveitando a nossa
vocação, a nossa localização geográfica e interagindo com os outros municípios
para o fortalecimento de toda a região. Não alcançaremos índices de qualidade
de vida com bons empregos, com uma politica de assistência e promoção à saúde
digna, com uma educação eficiente e uma segurança eficaz se estivermos
sozinhos. Só será possível almejar e conquistar estes resultados juntamente com
os nossos municípios vizinhos.
Na última eleição –
ano de 2016 - você disputou a prefeitura de Salinas. Recentemente foi eleito
presidente estadual do PPS. Qual o seu projeto para o partido em Minas?
Benoni - Disputar a
prefeitura foi muito gratificante e posso assegurar que é uma experiência
única. É o momento de conhecer de fato a realidade das pessoas. É a
oportunidade de constatar como elas vivem e acima de tudo, se comprometer
consigo mesmo a trabalhar efetivamente para mudar a realidade. Em relação ao
PPS, destaco que é o partido mais antigo do Brasil, criado em 1922 com a sigla
PCB. Em 92 percebendo a necessidade de mudança e reconhecendo erros, aprovou no
9º Congresso uma nova agenda e mudança do nome para PPS. Hoje é o partido que
mais se identifica com os movimentos da sociedade organizada, exemplo os
movimentos “Agora”, “Renova BR”, “Livres” entre outros. Esta identificação se
dá de maneira natural devido a decência e a seriedade com que o partido vem
sendo conduzido. Apesar de ser o mais antigo, é o mais moderno! O PPS tem a
clara compreensão do esgotamento da instituição partido e que uma nova forma de
fazer política é necessária e está surgindo na sociedade. Portanto o nosso
planejamento a pela interação com a sociedade, estimulando o debate e a participação
das pessoas para juntos encontrarmos uma nova forma de organização política,
mais plural, mais transparente e efetivamente participativa. Também
percorreremos o nosso estado para o fortalecimento das chapas de deputado
Federal e Estadual.
O país vem
enfrentando uma tremenda crise política e financeira. Como você vê essa questão
e o governo Temer, que tem baixa aprovação popular?
Benoni - De fato o país
está enfrentando uma das maiores crises da sua história, agravada pela
coincidência de dois fatores: Política e Economia. Já tivemos crises políticas
graves e crises econômicas também, entretanto as duas ao mesmo tempo é uma
combinação desfavorável para o desenvolvimento e para a estabilidade política
de uma nação. Creio que um dos principais motivos da crise política é a
ausência de lideranças natas, comum aos países que aram por um regime
autoritário. Normalmente nestes casos há uma castração de lideranças naturais e
consequentemente abre espaço para o surgimento de líderes populistas que num
primeiro momento prometem mudanças estruturais, mas entregam somente pão e
circo, buscando consolidar um projeto de poder. Quando a sociedade tomou
conhecimento das práticas políticas – utilizadas por vários líderes de partidos
diversos – resultou no esgotamento do modelo político brasileiro, hoje há uma
profunda rejeição da politica pela sociedade no geral. Com relação a economia,
a ausência de investimento nas áreas de infraestrutura e a ausência de lastro
financeiro para continuar com uma política – implantada pelos governos do PT
- de incentivo ao consumo e o ao crédito,
resultaram no encerramento de um ciclo de crescimento econômico com aumento da
inflação. O momento político somado a ausência de políticas econômicas
eficientes retiram do mercado a confiança de investir e o resultado desta soma
é o aumento do desemprego, a falta de crédito, a redução do consumo e com isso
o ciclo negativo se formou. Com relação a baixa popularidade do presidente
Temer, creio que continuará até o final do seu mandato. Não podemos esquecer
que o governo Dilma/Temer estavam no mesmo projeto. Apesar da maioria da
população brasileira ter aprovado o impedimento da Dilma, isso não significa
que queriam o Temer. Entretanto o resultado do impeachment não poderia ter sido
outro senão o constitucional, ou seja, era o vice que teria de assumir, isso
também não significa que a população iria morrer de amores por ele, mas creio que
o presidente Temer irá cumprir um papel importante para o Brasil.
O grande dilema de
nossa região, norte de minas e vale do Jequitinhonha, além da seca e a escassez
tradicional de chuvas, há o também alto índice de desemprego. Qual o projeto do
PPS nessas áreas?
Benoni - A nossa região
possui muitas riquezas e valores que precisam ser apropriados e explorados.
Precisamos buscar sinergia entre as vocações de cada cidade e potencializar
suas riquezas. Mas é preciso também resolver questões estruturais do Norte de
Minas, que vai além da escassez de água. Temos problemas de logística que
impedem a circulação de bens e serviços de forma eficiente e viável
economicamente, além de outros problemas. Para resolver, ou amenizar esta
questão, precisamos trabalhar por uma unidade no exercício da política. As
eleições estão chegando. Sabemos que hoje todo vereador, toda liderança quer
trabalhar para um deputado, com isso, vários recebem votos na nossa região,
entretanto nenhum deles tem o compromisso de priorizar as nossas necessidades.
Se não acordarmos para isso não iremos resolver as questões estruturais
necessárias para construirmos um ciclo de desenvolvimento com criação de
empregos e geração de renda.
O PPS é ligado
umbilicalmente aos tucanos que sofreu grande revés com o desgaste do seu maior
líder, o senador Aécio Neves. Como você avalia essa crise e que caminhos para
recuperação do poder político de outrora?
Benoni - Bem! O PPS já
esteve ao lado do PSDB em vários momentos, mas também já estivemos contra. Por
exemplo, quando o ex-governador Eduardo Azeredo disputou a reeleição ao governo
de Minas, o PPS apoiou o ex-presidente Itamar Franco no PMDB. Nós do PPS
fazemos coligações voltadas a projetos, podemos estar ou não no mesmo campo do
PSDB. Com relação ao desgaste do senador Aécio Neves, creio que se ele pretende
continuar na política terá que se justificar e esclarecer de maneira
contundente a justiça e aos mineiros.
Você já foi
secretário de estado em Minas e secretário nacional em Brasília. Quais os
resultados dessas agens no poder executivo?
Benoni - Foi um aprendizado
e tanto, me sinto honrado e tenho orgulho por duas vezes ter exercido o cargo
de Secretário. A primeira, na Secretaria de Estado da Integração e
Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais – SEDINOR. Recebi o convite
do governador Alberto Pinto Coelho para assumir a pasta em 2014, era um período
de transição, pois o Governador Antonio Anastasia havia renunciado para
disputar o Senado. Nesta oportunidade gerenciei os programas Leite pela Vida, Água
para Todos e o Travessia nota 10. Em novembro de 2016, o Ministro da Cultura
Roberto Freire me convidou para chefiar o seu gabinete e em fevereiro de 2017
pediu que assumisse a Secretaria Nacional de infraestrutura Cultural. O nosso
desafio era implantar uma política sustentável para os equipamentos culturais
dando ênfase no papel fundamental que a Cultura pode ter na economia
brasileira. Iniciamos um processo de valorização e fortalecimento da Lei
Rouanet – importante instrumento para o fomento da cultura. Criamos um plano de
ação e inauguramos 12 Centros Unificados de Esporte e Cultura. Ressalto que
apesar de ter assumido, nas duas oportunidades, num governo de transição exerci
a função de gestor e agente político com o maior entusiasmo, austeridade e
respeito pela coisa pública.
O Governo Temer tem
como bandeiras as reformas. Como avalia essas questões?
Benoni - As reformas são
essenciais. O primeiro o foi a aprovação do teto de gastos. A reforma
trabalhista por mais que para alguns possa parecer a retirada de direitos será
em pouco tempo reconhecida como um dos fatores responsáveis pela retomado do
emprego. A reforma da previdência precisa ser feita, e digo mais, não iremos
resolver todos os problemas com a proposta de uma reforma com tantas
concessões. Posso assegurar que o próximo presidente terá em sua mesa esta
pauta novamente. Este é um tema dinâmico e irá merecer atenção de todos em
outros momentos, porque está diretamente relacionado com expectativa de vida,
longevidade e capacidade de financiamento do sistema.
O país clama por
renovação política. Você acredita que nessas eleições de 2018 é possível
alteração substantiva nas assembleias legislativas e no congresso nacional?
Benoni - O país de fato
clama por uma renovação na política, é urgente uma nova forma e um novo modelo
político. Entretanto não acredito numa renovação substantiva porque o modelo de
financiamento e as regras para a campanha eleitoral irá beneficiar quem já tem
mandato.
Em Minas, o
governador Pimentel surgiu como essa tão sonhada renovação política e de gestão
pública. Você como dirigente partidário e servidor público como avalia o
governo Pimentel?
Benoni - Na minha
avaliação, não veio como uma renovação política, já era um ator experimentado
com um bom conceito de gestor público proveniente do exercício do mandato de
prefeito da Capital. Na política não há espaço vazio, ele soube muito bem
aproveitar o momento e apresentou propostas que supriam deficiências de alguns
seguimentos. Assumiu o governo gerando nestes seguimentos uma enorme
expectativa, entretanto não está conseguindo os mesmo resultados que alcançou
na prefeitura de Belo Horizonte.
Quem é o Benoni por
ele mesmo?
Benoni - Uma pessoa simples
que gosta de estar com os familiares e com os amigos para conversar, cantar e
apreciar um bom aperitivo com uma cerveja gelada. Sou um visionário e não me
convém ficar na zona de conforto. Na verdade sou um homem comum, que aprendeu
que o conhecimento e o dinheiro podem trazer poder, mas só o caráter assegura
respeito!
Surge no país, como
na Europa e na América, movimentos conservadores e de extrema direita política,
como o deputado militar Jair Bolsonaro. Qual a sua avaliação?
Benoni - Não acredito que a
solução para problemas complexos estejam nos extremos. As sociedades evoluem
com o tempo e consequentemente suas demandas ampliam, diferenças vão surgindo e
exigindo os seus espaços, as minorias se organizam e muitas vezes conseguem
resultados mais significativos do que a maioria. Precisamos ter serenidade para
entender os novos movimentos e tolerância para aceitar, mas não podemos nos
submeter e deixar que os valores universais, como a democracia, fiquem em
segundo plano. Há uma insatisfação da sociedade pelo mundo afora, apostando em
posturas mais radicais, eu não acredito nisso, mas respeito!
O ex-presidente Lula,
mesmo preso, vem liderando as pesquisas eleitorais para a presidência da
república em 2018, apesar do desgaste do PT e uma estranha posição do
judiciário que tem dedicado exclusivamente a busca de sua inelegibilidade. Qual
a sua posição e de seu partido neste caso?
Benoni - Em primeiro lugar
a liderança do ex-presidente Lula nas pesquisas não é estranho. Foi presidente
por dois mandatos, aproveitou o bom momento da economia brasileira e esteve à
frente de todas as decisões políticas da sua sucessora sem se envolver com o
desgaste da mesma. Entretanto creio que há um teto para ele, ao mesmo tempo em
que Lula lidera as pesquisas lidera também a rejeição. Com relação ao desgaste
do PT creio que não será fácil para quem pretende buscar mandato nesta sigla
superar este obstáculo. É importante ressaltar que não existe nada de estranho
no judiciário com relação a Lula. A justiça é para todos sem exceção.
A operação Lava-jato
e o Juiz Sergio Moro, o que tem a dizer?
Benoni - A operação
Lava-jato está cumprindo um papel importante para o estado brasileiro e o Juiz
Sergio Moro está cumprindo o seu dever.
Relacione alguns
projetos que podem impulsionar o desenvolvimento regional?
Benoni - A duplicação da
BR; interlocução com os gestores regionais para elaboração de uma pauta comum;
política de incentivos/responsabilidades para atração de negócios de varejo,
incentivo a promulgação das tradições culturais e vocacionais como marmelo (São
João do Paraiso), Pedras preciosas (Rubelita), Cachaça (Salinas) entre outros.
Você como funcionário
da Cemig como vê a privatização da empresa e outras estatais proposta pelo
governo Temer?
Benoni - As privatizações
deverão sempre ser precedidas de analises e estudos comparativos entre
resultados sociais de maneira global e resultados financeiros. Qualquer
patrimônio público somente tem valor se agregar ganhos para a sociedade, estes
ganhos podem vir de várias formas: culturais, financeiros, de estabilidade
setorial, de segurança nacional, ambientais entre outros... Eu creio que não
devemos itir a manutenção da propriedade de um bem público quando o
resultado entre os ganhos sociais e o financeiro for desfavorável. É preciso
muito estudo para se posicionar a respeito das privatizações, não devemos nos
posicionar sem as informações fundamentadas para cada processo. A falta de
informação poderá nos levar a equívocos.
Você vai disputar uma
vaga para deputado?
Como
disse no início: a primeira lição que aprendi na política: Não se faz política
sozinho, não existe candidatura de si mesmo.
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